quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Bicho Livre

Nascemos inseridos em um Sistema desleal, que nós vê como simples engrenagens e negligencia nossa singularidade. Transformamos nossos valores em produtividade, só é "alguém"(quem é ninguém?) quem serve ao Sistema. "Preguiçoso" é quem não se conforma com essa realidade, mas afinal, não deveríamos sermos todos preguiçosos?

Através da história desenvolvemos uma classificação especial pra nossa espécie; Destacamos a nós mesmos da unidade animal, não nos vemos como bicho, e essa foi a fagulha que incendiou toda a nossa floresta. Nenhum bicho nasceu pra trabalhar, pra bater cota, cumprir horário. Essa não é a nossa natureza.

É triste ver as massas reproduzindo a ideologia social que as escravizam, tudo por pura falta de senso crítico, de rebeldia. Não há contestações, ninguém deita a cabeça em uma pedra ao ar livre, e se pergunta, enquanto olha pra imensidão do céu estrelado, se não deveria estar livre pra viver o dia, como os outros animais.

Parece utópico, você pensa, falar sobre um mundo no qual você acorda de manhã com uma única missão: ver o dia nascer. E é assim que deve ser. Não falo de uma vida -necessariamente- analógica, mas de uma vida livre, sem rotina. Podemos sim comer o que plantamos, beber do que cuidamos, viver no que construímos. Viver.

Cheguei a um ponto na vida em que o Universo está me proporcionando a experiência de viver no mesmo quarto que os meus maiores demônios, a porta está fechada, mas a janela não, e é por isso que eu consigo ver o Sol que brilha além do horizonte; É esse o meu combustível pra continuar perseverando e chegar cada vez mais perto da minha liberdade.

Sou vagabundo, sou preguiçoso, odeio trabalhar, tenho aversão ao Sistema, não quero acumular coisas que podem ser tocadas com as mãos. Sou bicho, consciente, e detentor de uma liberdade sem limites.

domingo, 19 de abril de 2015

Vazio

 Sempre fui uma pessoa vazia, no melhor sentido do termo. Sou vazio porque gosto de me encher, gosto de ter espaço em mim para pôr coisas novas, e em seguida jogá-las fora. Mas algumas coisas que me preenchiam, pararam de me satisfazer; Talvez tenha crescido, talvez elas não sejam mais suficientes para chegar ao topo de mim, e me transbordar.

 Durante muito tempo fingi estar cheio. Foram noites e noites de sorrisos falsos, de motivos pra ficar sozinho por cinco minutos dentro daquele lugar cheio de gente cheia demais, de muita disponibilidade pro outro e nada pra mim. A pior dor que existe é a do fingimento. Não deveria ser assim. Não é sadio aplacar as dores da vida em veneno pra alma. 


 Apoiei minhas fraquezas em coisas(e pessoas) que mal se sustentam por conta própria. Não é culpa de ninguém, não há crime, há apenas falta de sabedoria e desespero. Acompanhado do erro vem a vergonha, ser fraco nunca foi o meu forte.

 Eufemizei na minha própria cabeça atitudes de pessoas que deveriam ser meus cúmplices. Fingi não ver, não entender, não sentir a maldade em cada palavra. Sou breve, não há tempo para meias amizades, para amores de estado alcoólico, para "te amo, mas...". Não vou continuar não vendo, e muito menos me obrigando.

 Vivi o drama de amigos que fizeram escolhas, uns de forma branda, outros de forma caótica, mas que escolheram sair. Parece que quando você resolve se desfiliar da ceita, você é jogado aos leões; Não os serve mais, não os cheira bem.

 Há de ser necessário bravura para meter o pé na porta e sair, mesmo ciente das consequências. Mas estou descobrindo que é(talvez até mais) necessário se ter a bravura pra segurar a porta e ficar dentro, quietinho, tomar as rédeas da sua vida. Conforme os anos passam, algumas coisas deixam de fazer sentido.

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Cipós e Mangas

Colhi cipós e mangas, trouxe também um pouco de reflexões e esperança.
Apreciei belos quadros vivos(mas esses deixei lá), vi o quanto a minha espécie pode ser invasora.
Respirei ar puro e pedi desculpas aos meus pulmões.
Desejei uma boa tarde a quem cruzou o meu caminho, tive uma boa tarde.
Sorri e recebi gentilezas.
Senti paz, deixei cair vergonhas pelo caminho.
Amei o pôr do Sol, matei a saudade da minha terra.
Transcendi a mim mesmo.