domingo, 29 de junho de 2014

Eu Falei

Já soube, mas há tempo que eu tinha esquecido o que é amor. Estive em muitos lugares, com muitas pessoas, fazendo inúmeras coisas, mas nunca falei de amor.

Reconheço que tenho essa qualidade de não supervalorizar sentimentos, sei que já gostei de muita gente nos últimos 5 anos, mas nunca falei de amor.

Já tive a certeza de muitas coisas que antes pra mim eram inimagináveis; Já mudei pensamentos e fiz coisas insanas, que apesar de não me arrepender, sei que foram inconsequentes, mas nunca falei de amor.

No momento mais visceral da minha vida, estive lutando contra uma imensidão de sentimentos conflitantes que me embrulharam a cabeça, mas nunca falei de amor.

Já menti muito por imaturidade e por necessidade; Falei inverdades a troco de um conforto temporário, como se precisasse disso, mas nunca falei de amor.

Já procurei(e encontrei) diversos meios de fugir e tentar desassociar da minha realidade; Fui covarde com orgulho, inventei uma vida alternativa enquanto pude, mas nunca falei de amor.

Depois de tantos anos de viagem errante, encontrei a solidez emocional que tanto procurei, mesmo sem saber ou querer admitir que a procurava. É um tiro no escuro, um jogo de roleta-russa que pode machucar. Mas independente de quaisquer consequências, eu vim falar de amor.

sábado, 14 de junho de 2014

Bolha Azul


 Dentre infinitas possibilidades, eu nasci. Poderia ter sido outro, ou outra, mas sou eu. Nasci na Via Láctea, nesse sistema solar específico que fica em um dos braços distantes do centro da galáxia; Surgi exatamente nesse planeta: Terra. Sou a expressão de todas as (im)possibilidades. Sou muito e nada.

 É absurda a insignificância cósmica que é expressa pela existência da minha vida, mas mesmo assim ela é um acontecimento e tanto na realidade de quem só tem a ela; No caso, eu. Não sei quantas oportunidades terei de gozar da experiência vivencial, então me soa sensata a ideia de viver de forma livre e experimental, absorvendo e excretando tudo de mais variado que pode existir ao meu alcance. Mas essa não é a ideia geral de vida nessa bolha azul em que nasci. Aqui os seres são todos livres e inconscientes de sua liberdade; Mas um ser específico, apesar de possuir naturalmente tudo o que os outros também possuem, não expressa sua liberdade. Humanos. Humanos são tão privilegiados por estarem vivos quanto qualquer outro animal, são apenas um piscar de olhos na escala espaço~tempo como a maioria das espécies ainda vivas, mas mesmo assim insistem em anexar significados e funções à sua existência, perdendo assim a sua liberdade, em prol da sua consciência racional. 

 Parece que a consciência humana foi anulada no momento em que teve início o raciocínio, que gerou o sistema de planejamento e de contagem do tempo. A vida parou de ser vivida e começou a ser planejada, analisada e registrada. Começou a vigorar uma pseudo-lei que nos diz que devemos andar pelo mundo segurando uma corda guia, como aquelas que são usadas em cavernas submersas para não perder a saída. Dessa forma se tornou impossível soltar a corda, abrir os braços e vivenciar o tempo com braços abertos; Porque é perigoso perder a corda, é arriscado sair do Sistema e começar a desbravar terras e ideias. 

 Por sorte(sim, sorte), algumas pessoas talvez não tenham desenvolvido tanto o raciocínio quanto a consciência. Eu sou um exemplo de ser consciente, porém quase irracional; A consciência está muito mais próxima do sentido de vida livre do que o raciocínio, porque é preciso ser consciente pra chegar a conclusão de que não é válido passar o meu único suspiro de vida preso a um sistema carente de sentido. Sou consciente de que talvez essa seja a minha única aventura no Mundo, então preciso honrar a chance que tenho de simplesmente ser.

 Somos poeira das estrelas. Vestígios de uma sopa cósmica que deu certo. A improbabilidade que se reverteu. Somos a ciência do ser ciente. 
Por ser, hoje em dia sinto a necessidade de saber onde e o que estou; Não me sinto confortável com a premissa de que posso estar sendo menos do que deveria ser.

segunda-feira, 9 de junho de 2014

Ideologia

 Não me recordo o momento, nem o grande divisor de mares que me fez decidir dedicar a minha vida ao fluxo natural das coisas, mas sei que posso afirmar sem o temor de estar sendo leviano, que pratico diariamente o exercício da paz interior e exterior.

 Como de costume, a minha concepção de "paz" é diferente do senso geral. Eu digiro essa palavra de uma forma que me faz ter a certeza de que a vida não pode ser diferente; E pra mim, a paz não é a ausência de caos. Pra mim a paz reside no caos como se um não pudesse existir sem a presença do outro.

 Eu sou uma pessoa caótica. Passo por inúmeros picos de adrenalina quando me permito viajar nas curvas do meu pensamento, mas isso não me contraria. Eu gosto de ser assim, porque a minha paz reside na aceitação da minha personalidade desordenada.

 Me soa monótona a ideia de viver uma vida carente de adversidades e conflitos. Tive poucos momentos de aprendizado enquanto vivi a calmaria, em contraponto, o mar revolto me ensinou a nadar.

 A minha ideologia me faz ver o mundo mais como um parque de diversões do que como uma escola. Penso que assim as coisas se tornam menos mecânicas e voltam a ser o que sempre foram. Gosto de experimentar sabores, cheiros, visões e substâncias. Gosto de dar ao meu subconsciente a liberdade e o direito de controlar os meus pensamentos. Gosto também de perder o controle.

 Tenho medo de ceder e me tornar tudo aquilo que eu tanto tenho aversão. Não quero acordar pra trabalhar, não quero ter que chegar, não quero ter que ir embora, não quero deixar de lado o meu instinto que me guia sempre pro que é orgânico. 

 Não julgo quem aceita viver como o sistema sugere(ou impõe), não me sinto no dever de gastar minha existência atuando como juiz, mas estou certo de que eu não me sentiria confortável deitado naquela forma de operários que a maioria chama de "vida". Já disse outras vezes que considero válida toda ideia que é formulada a partir da reflexão íntima de cada um. 

Tento não me prender a isso, mas ocasionalmente me vejo contemplando a minha projeção de futuro, e nela eu não estou sentado no camarote de uma festa cara em Paris; Nela eu estou vivendo rodeado de gente que eu amo em uma casa no alto de algum lugar, cercado por vida, com fome de experiências, e em paz. A minha meta é não deixar de existir, o meu ideal é a plena experiência vivencial.

sábado, 7 de junho de 2014

Falta de Coragem

Tenho tido medo de escrever e acessar novamente todas essas memórias que insistem em se consolidar por aqui. Tenho tido medo de escrever. Na falta de coragem, escrevo sobre o meu medo de escrever, sem medo.