sábado, 21 de dezembro de 2013

Refúgio

 Um universo paralelo ao real, ao passível de erros. Um mundo que se ajusta a mim, nele crio e extermino ideias e ideais conforme a minha vontade ou necessidade; Nele sempre existem justificativas plausíveis pras minhas escolhas desastrosas, nele tudo é sépia, sempre há brotos prestes a florescer em qualquer lugar.

 Aqui não existem regras óbvias; Nem sequer a natureza respeita a normalidade, principalmente se tratando da minha natureza. Pode ser um paraíso de inúmeras formas. A alegria pode ser revigorante, e a dor pode ser nostálgica.

 Não há a necessidade de tentar, nem de ser. Não há necessidade externa. Essa realidade também se aplica à coisas que costumam nortear vidas mundo a fora. Minha bússola é de carne, meu norte é um espiral infinito. A chuva ameaça cair a qualquer momento, e assim, mantém a adrenalina no sangue, alimentando a expectativa de que em algum momento uma enxurrada brote das pedras que brotam das árvores. Não há dia, não há noite, tudo é um eterno entardecer. Eu controlo o Sol, e a Lua me controla. Esse é o meu mundo.

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Agridoce

 Como uma sequência de peças de dominó, os acontecimentos e realidades se acumulam e empurram uns aos outros, e acabam por desencadear esse ciclo doentio que faz com que o mundo se estremeça e todo o doce acaba por se misturar com o conteúdo amargo que só fazia descansar no fundo do pote.

 Agridoce como de costume, segue causando desconforto a todos que o experimentam; Faz confusão e brinca com os sentidos de quem ousa - ou é destinado a - tocá-lo, mas pode-se dizer com quase certeza que em grande parte dos momentos, ele se mostra mais agri do que doce.

 Por vezes fica explicito o desconforto. Inevitavelmente deixam seus rostos os entregarem, e confirmam de forma empírica que nem todo paladar está preparado para saboreá-lo.   

domingo, 8 de dezembro de 2013

Casado Com a Noite

 Sabe, desde quando eu me encontrei como pessoa, tenho dedicado a minha vida à não passar despercebido e a nunca me arrepender; Mas tenho que confessar que tenho andado muito decepcionado comigo. Já tive prioridades e força de vontade há tempos atrás, e sinto que a cada fim de semana que passa, eu me perco mais em quem eu sou.

 Vivo em uma luta interrupta dentro da minha cabeça, é o que eu quero sendo confrontado o tempo todo pelo medo de não poder ser; E o que eu tenho feito tem se mostrado cada vez mais do lado ruim da batalha, e isso tem me derrubado dia após dia, e pior: tem me impedido de levantar.

 Estou convicto de que só há uma maneira de mudar isso, e não é com palavras. A literatura me ajuda cada vez mais a pôr pra fora o que o meu consciente tenta aprisionar, mas ela sozinha não é o suficiente pra me levar onde eu tenho que ir. Eu preciso de mais.

 Não adianta ficar me lamentando eternamente sobre o que eu não consegui ser. Nunca posso dizer que não tentei até aqui, mas sei que se quiser ver mudança, eu tenho que mudar... e não só com palavras. Já tentei muito, já passei horas trancado no banheiro chorando, já senti raiva por ser menosprezado, mas isso não foi o suficiente. Se já tentei, preciso tentar mais; Se já chorei de dor, preciso chorar mais; Se já tive disciplina, preciso me disciplinar mais; Se já quis, preciso querer mais.

 É óbvio que muita gente não vai estar do meu lado, e isso já deixou de ser negativo pra mim há tempos. Aprendi que posso ser fraco e não conseguir resistir, mas posso me afastar. Preciso.


"Se você quer algo que nunca teve, precisa fazer algo que nunca fez."

au revoir!

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Deliciosa dor

 Todo mundo é diferente, todo mundo é um mundo infinito na sua intimidade, mas nem todo mundo expõe o que é; Isso porque é difícil e desgastante se manter de pé quando o mundo a sua volta tenta a todo custo te fazer abaixar e se curvar às normas de normalidade. Ainda existe aquele pensamento de "moral e bons costumes", que cada dia mais faz com que tudo aquilo que difere as pessoas seja reprimido e anulado na tentativa de fazer com que o mundo seja homogêneo.

 As circunstâncias me fazem reafirmar a cada dia que quanto mais eu reivindico a minha autenticidade, mais distante me encontro daqueles que querem me moldar. É duro, mas não há como negar que ser você, pode acabar te matando por dentro; A não ser que você chegue a conclusão que eu cheguei neste dia.

 No início, é dolorido ver o mundo se afastar em espasmos cada vez mais intensos, mas essa dor vale a pena. E admito que é até agradável, porque ela é uma lembrança constante de que não estou falhando na missão de ser diferente do mundo doentio que me cerca.

 Sou consciente de que a vida não será fácil enquanto eu nado contra a maré, mas a vida será igualmente difícil caso eu decida por sufocar e abafar o fogo me aquece e mostra quem eu sou. Aceitar as minhas peculiaridades me afasta do mundo, mas me aproxima cada vez mais de mim.


"Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é."

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Estrada de Ferro

  Apesar de sentir com frequência uma imensa certeza de estar no caminho certo, há horas em que sinto que sou uma locomotiva vagando perdida, sem rumo; Como se tivesse sido me dado o caminho, mas que por razões até então desconhecidas, eu tenha simplesmente perdido as coordenadas e vindo parar aqui: no nada. Não sei qual é o fator que eu uso como ignitor para que o ciclo se repita, mas quase que diariamente me pego subindo e descendo colinas como se estivesse viajando na velocidade da luz dentro da minha cabeça. 

  Me encontro seguindo por caminhos circulares, e muitas das vezes, nem percebo o que está havendo. Talvez a minha carga também esteja favorecendo para que o caos se instale; Parece que a vida ajudou a acumular obrigações e culpas por um longo período, para que um dia tudo fosse depositado em um vagão e despachado para bem longe. O grande problema é que não estou certo da minha capacidade de arrastar todo esse peso por muito mais tempo, não sei até onde os meus elos aguentarão, não sei quantas vezes mais conseguirei enfrentar tantas subidas íngremes, e quanto os meus freios de emergência ainda poderão suportar. 

  Percebo que a cada dia que passa, mais longas são as minhas jornadas noturnas. Passo por lugares cada vez mais sombrios e sujos, e o dia pra mim tem se tornado só mais uma forma de subsistir. Tenho medo de estar mais perdido do que suponho e que em breve o meu combustível acabe, e eu termine como um ferro-velho, enguiçado no meio de uma floresta úmida, deixado pra apodrecer.

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Início, meio, e fim.

 É curioso como a gente aprende com a vida, não é? Lembro bem que há cerca de 1 ano atrás eu não podia ouvir essa música, que eu simplesmente desabava(mesmo que por dentro); E hoje tudo isso se tornou nada mais do que uma lembrança,

 Resolvi falar sobre isso, porque finalmente me sinto neutro ao lembrar do "ocorrido". Tudo começou em um sábado; Fui convidado por uma amiga a ir em uma festa, ao chegar no local, ela encontrou com um amigo, e esse amigo estava acompanhado... e muito bem acompanhado, pensei.
 Enquanto a boate não abria ficamos todos esperando na porta, e a cada minuto eu ficava mais sem jeito por causa dos olhares que estava recebendo; Sim, o acompanhante do meu "conhecido" não parava de me olhar, mesmo estando abraçado com outra pessoa. Bem, se fosse nos dias de hoje, eu já teria tido a malícia para identificar o perigo, mas não, eu era MUITO jovem, e MUITO imaturo pra isso. A noite foi rolando, descobri que o tal rapaz era Dj do evento, e além disso, estava comemorando o seu aniversário naquele dia. Eu simplesmente não consegui tirar os olhos dele a noite inteira, fiquei hipnotizado pela forma com que ele ria, falava, gesticulava... enfim, eu estava encantado; Chegou um momento em que eu voltei pra realidade e lembrei que aquilo não poderia(nem deveria) acontecer, então tentei seguir com a noite sem prestar atenção no que eu tanto queria(apesar de ter falhado nisso).

 Manhã seguinte: domingo. Acordei um pouco depois do horário do almoço e corri pra internet, e ao abrir a primeira página de uma rede social, me deparei com um convite de amizade; Era o tal rapaz(vou chamá-lo de "U", e depois explico a razão), tremi por dentro, aceitei, e logo veio a mensagem. Começamos  a conversar, trocamos MSN, até que ele me fez um convite: me chamou pra ir ao cinema no dia seguinte, e ainda disse que me buscaria no colégio. O questionei sobre o "relacionamento" com o meu conhecido, e ele disse que não passou de uma noite. Acreditei e segui com a conversa.

 Dia seguinte: Era uma segunda feira qualquer, tirando o fato de eu estar mais impaciente do que nunca e suando frio dentro do colégio. Eu acho que nunca havia ficado tão ansioso pra que acabasse a última aula. O sinal finalmente bateu, fiz hora dentro do colégio na tentativa de criar coragem pra sair e encontrá-lo, até que o fiz. Assim que coloquei os pés pra fora o avistei na esquina, me olhando com um sorriso(lindo, por sinal) no rosto, fui até ele e seguimos para o cinema; Nesse momento me senti voltando à infância(apesar de ter acabado de sair dela), eu estava sentado em pânico naquela cadeira vermelha, com as mãos suando frio e quase pirando, até que ele me abraçou. Foi cômico o quanto eu me senti bem ali entre aqueles braços; E achando que não poderia melhorar, as luzes se apagaram, e ele me beijou. Lembro como se fosse hoje!


- A partir daqui irei abreviar a história, e se você leu até aqui, por favor, continue. (: -

 Depois desse encontro, houveram outros, cada vez mais intensos e íntimos. Eu estava ficando louco, nunca havia visto tanta luz em alguém; Nunca havia sentido um sentimento tão forte. Minha vida passou a se moldar à ele; Eu fazia de tudo pra estar onde e quando ele queria, fazia de tudo pra estar na presença dele, e pra tentar me tornar tão especial pra ele, quanto ele era pra mim. Aprendi a sentir ciúmes e a me controlar, aprendi que nem todo mundo que me rodeava me queria bem, e finalmente, conheci o sentimento de perda.

 Era uma manhã-pós-balada quando estávamos em uma praça conversando e um conhecido meu passou e nos viu juntos. Logo em seguida recebi uma mensagem da minha mãe, dizendo que havia descoberto tudo. Cheguei em casa pra conversar, e só consegui ter mais certeza de que, a cada palavra, mais longe ele ficava de mim. Esse era o início do fim da melhor coisa que eu já havia vivido... Daí pra frente não aconteceram muitas coisas, pois fui obrigado a cortar todo e qualquer contato, até que um dia me dei conta de que tudo havia acabado.

 Me senti sem chão, mas em seguida fui induzido a procurar uma fonte alternativa de conforto, mesmo nunca o tendo esquecido... 

- Dias atuais -

 Finalmente ganhei a minha liberdade, finalmente estava disponível para viver, e mesmo assim, continuei sem conseguir esquecê-lo por 1 dia sequer. Não me recordo como, mas voltamos a nos falar quase que por acidente, e então eu tive novamente aquele misto de sentimentos dentro de mim. Me sentia feliz por tê-lo de novo ali "ao meu alcance", e ao mesmo tempo me sentia mal por saber que agora ele era de outro, ele amava a outro, mesmo insistindo em dizer que eu "sempre seria eu", que era importante pra ele.

 Tudo isso se desenrolou em mais ou menos quatro anos, até que chegou o momento em que ele(por motivos de "força maior") resolveu me esquecer, e me deletou de sua vida.

 Eu neguei até a morte, mas sofri; E sofri MUITO ao ver explicito ali o quanto eu havia sido só mais um na vida dele. Sabe, entendo os seus motivos, mas não acho que eu não tenha o direito de sofrer por saber que cheguei ao ponto de terminar um relacionamento por alguém que me via como um nada.

 Até pouco tempo atrás eu me sentia balançado quando lembrava dessa história, e por mais que o meu coração tenha sido habitado por outras pessoas nesse meio tempo, eu sempre mantive intacto o lugar dele. Digo isso sem medo nem vergonha, porque é passado. E eu não digo isso como quem quer sair de cabeça erguida da situação, digo do fundo do meu ser. Cada dia mais eu percebo que tudo não passou de uma fantasia criada na cabeça de um jovem e inexperiente garoto que acreditava em qualquer meia-dúzia de palavras bonitas; Alguém que sonhou sozinho.

 Escolhi usar a letra "U" para nomeá-lo, porque no final das contas, ele foi só mais "Um"; Não só mais um que eu usei o corpo, mas só mais um que cultivou sentimentos em mim para em seguida deixá-los morrer; Só mais um que me teve nas mãos apenas para usar como um step, uma segunda opção; Só mais um que me provou o quanto eu preciso estar na defensiva, caso queira continuar vivo por dentro.

 Não é com um sorriso no rosto que eu escrevo essas palavas; Gostaria que a história tivesse sido outra, mas me sinto orgulhoso por ter aprendido a aceitar e a superar, e por conseguir lembrar disso sem derramar uma lágrima sequer.


"Não importa o que aconteça, você vai ser meu par. Você é assim pra mim, meu início, meio, e fim."