segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Desentortei meu papo

 A depressão é como se fosse uma banheira coberta com uma lona, algumas pessoas tem suas banheiras cobertas com lonas fortes e bem amarradas, que aguentam bem o peso das coisas da vida sem ceder. Nós que temos depressão somos o contrário; O peso do mundo se acumula no centro da lona, e com o tempo(ou muito rapidamente, dependendo do caso), as cordas que prendem a extremidade da lona começam a ceder, e assim a lona começa a criar uma concavidade(criando assim uma "depressão"), adentrando o espaço da banheira - que é nada além de nós mesmos - e diminuindo gradativamente o espaço interno, encurralando quem ali habita.

 Não importa o quão ampla é a sua visão de mundo, uma crise provavelmente fará o menor contratempo se tornar o problema mais crucial da sua existência. Quanto menor o espaço, maior a crise; Quanto menor o espaço, maiores os problemas parecem. Além de tudo, o progresso da limitação espacial também nos impossibilita de fazer certos movimentos e explorar muitas áreas de nós mesmos.

 De tempos em tempos as coisas simplesmente mudam, a tensão na superfície da lona diminui e ela começa a retroceder, abrindo o espaço interno e permitindo que nós possamos nos locomover na nossa própria mente. Esse é o momento no qual experienciamos a vida na sua forma mais alva.

 É desesperador, assumo, conviver com a certeza de que a lona um dia voltará a baixar, mas não há outra forma de viver; Inclusive, esse é o motivo pelo qual muitos portadores dessa doença optam pela interrupção dos batimentos cardíacos. Não são todos que vêem alguma beleza em viver uma vida acometida por recorrentes e incessantes crises. Mas essa não é a melhor escolha, e eu vou lhe dizer o por quê: Todos possuem revezes na vida, e esse é apenas mais um. Sei bem o quão difícil é lidar com isso quando a nossa lona está sobrecarregada e quase rompendo o próprio tecido, mas acredite, sempre há como olhar acima disso. Cada pessoa cria uma forma de lidar com essa situação, eu descobri que devo me lembrar de que talvez as coisas estejam tão ruins apenas por causa de mais uma crise. Isso não é deslegitimar a dor, é exercitar uma forma de conviver com ela. 

 Suportar não é a única forma de viver, podemos também produzir. Encontrei na arte a liberdade que eu tanto precisava. Não me prendo a um nome dado para definir a minha arte. Por que dar nomes aos bois se podemos chamar todos de "meu"? E além disso, é muito mais interessante desfrutar de experiências diversas, de formas que poucos ousaram apreciar. 

 A arte é, definitivamente, a minha válvula de segurança para a vida. Fui abençoado pelo acaso e nasci com um coração quente o suficiente para me manter vivo e ainda tentar aquecer quem me rodeia. A depressão é dolorida, mas ela pode ser mais o que você quiser. Um artista usa da matéria-prima que a vida disponibiliza para respirar, e se a vida te deu dor, coração, pinte com ela. 

Paz, amor e vida!

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

eusoufeitodeamor


"eu fui feito para o amor, eu preciso ser amado;
eu sou todo feito de amor;

perco minha sanidade na noite quântica que são todas as noites,
em vão tentando compreender o enlace,
em vão tentando ser único e suficiente,
e perco minhas forças na ausência,
enquanto me atiro aos ventos frios na costa da barra da tijuca,
jaqueta em punhos,
pintando o mar com o mijo da cerveja que comprei mais cedo, te busco


mas foges da opressora presença da plenitude,
se lançando em conversas vazias, de amizades incompletas na areia, é uma festa:
há música, e luzes, e risos, e vibe, e sonhos à vista do mar
e bebida suficiente pra todos vomitarem duas ou três vezes suas alegrias

mas tudo o que eu quero é amor e silêncio,
nesse bairro repleto de pessoas,
cheio de enganações e coisas que eu não posso sentir,
eu me quebro;
fraquejo em autossuficiência, eu preciso do outro, eu preciso sentir
eu preciso me sentir amado, eu preciso sentir que amei
como nunca antes se amou

mas sou insuficiente até em perceber a minha insuficiência
e quando somes, ó amor, a quem procurarei?
a quem entregarei minha calma e minha cama,
a quem entregarei minha luta?
quem governará meu ego partido, quem viverá num edifício vazio?

eu fui feito para o amor, eu preciso ser amado;
eu sou todo feito de amor."

Tadeu
Poema que resgatei(e me resgatou) do chão no 4° Sarau Nefelista.