sábado, 14 de junho de 2014

Bolha Azul


 Dentre infinitas possibilidades, eu nasci. Poderia ter sido outro, ou outra, mas sou eu. Nasci na Via Láctea, nesse sistema solar específico que fica em um dos braços distantes do centro da galáxia; Surgi exatamente nesse planeta: Terra. Sou a expressão de todas as (im)possibilidades. Sou muito e nada.

 É absurda a insignificância cósmica que é expressa pela existência da minha vida, mas mesmo assim ela é um acontecimento e tanto na realidade de quem só tem a ela; No caso, eu. Não sei quantas oportunidades terei de gozar da experiência vivencial, então me soa sensata a ideia de viver de forma livre e experimental, absorvendo e excretando tudo de mais variado que pode existir ao meu alcance. Mas essa não é a ideia geral de vida nessa bolha azul em que nasci. Aqui os seres são todos livres e inconscientes de sua liberdade; Mas um ser específico, apesar de possuir naturalmente tudo o que os outros também possuem, não expressa sua liberdade. Humanos. Humanos são tão privilegiados por estarem vivos quanto qualquer outro animal, são apenas um piscar de olhos na escala espaço~tempo como a maioria das espécies ainda vivas, mas mesmo assim insistem em anexar significados e funções à sua existência, perdendo assim a sua liberdade, em prol da sua consciência racional. 

 Parece que a consciência humana foi anulada no momento em que teve início o raciocínio, que gerou o sistema de planejamento e de contagem do tempo. A vida parou de ser vivida e começou a ser planejada, analisada e registrada. Começou a vigorar uma pseudo-lei que nos diz que devemos andar pelo mundo segurando uma corda guia, como aquelas que são usadas em cavernas submersas para não perder a saída. Dessa forma se tornou impossível soltar a corda, abrir os braços e vivenciar o tempo com braços abertos; Porque é perigoso perder a corda, é arriscado sair do Sistema e começar a desbravar terras e ideias. 

 Por sorte(sim, sorte), algumas pessoas talvez não tenham desenvolvido tanto o raciocínio quanto a consciência. Eu sou um exemplo de ser consciente, porém quase irracional; A consciência está muito mais próxima do sentido de vida livre do que o raciocínio, porque é preciso ser consciente pra chegar a conclusão de que não é válido passar o meu único suspiro de vida preso a um sistema carente de sentido. Sou consciente de que talvez essa seja a minha única aventura no Mundo, então preciso honrar a chance que tenho de simplesmente ser.

 Somos poeira das estrelas. Vestígios de uma sopa cósmica que deu certo. A improbabilidade que se reverteu. Somos a ciência do ser ciente. 
Por ser, hoje em dia sinto a necessidade de saber onde e o que estou; Não me sinto confortável com a premissa de que posso estar sendo menos do que deveria ser.

Um comentário:

  1. Arcanjo Miguel

    A gente passa a vida dizendo e não falando nada, pedindo e esquecendo-se de perguntar se existe algum jeito de ajudar. Eu sou um cara de sorte, vivi uma vida de tropeços, caminhei sem saber onde deveria pisar, sempre fui grato, mas nunca pedi obrigado de verdade. Carrego no nome o que carrego no peito, responsabilidade vem de berço, mas às vezes a maturidade vem da chibata. E se existe um culpado, se existe um assassino, ele nos encara todos os dias ao escovar dos dentes, é o reflexo no espelho que escolhe se vai ou não puxar o gatilho. Eu encontrei a força em Deus, mas talvez eu tenha muito a vomitar nessa e em outras vidas para conseguir falar de uma energia que me colocou no eixo, que vive em mim, mas que pode não viver da mesma forma nas outras pessoas. O fanatismo me calou, me impediu de ser o que sempre fui, eu tive medo de amar, porque percorri a estrada de tijolos amarelos amando quem eu encontrava no caminho, não me esqueço da dor, mas decidi prestar atenção no amor.

    Ps.: Eu te amo, amigo.

    G.A.

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